Pelo que eu apurei a tendência entre os gramáticos nestes casos é para aceitar a conjugação quer no singular quer no plural. E isto vale não só para os exemplos da pergunta, mas em geral para sujeitos constituídos por substantivo plural precedido de (a) expressão partitiva (maioria, uma parte, etc.) ou (b) substantivo coletivo singular:
(b) A maioria dos fãs era jovem ou a maioria dos fãs eram jovens.
(c) A multidão dos fãs ficou delirante ou a multidão dos fãs ficaram delirantes.
No entanto muitos gramáticos, possivelmente a maioria, prefere o singular. Vejam por exemplo no Brasil Escola. Mas encontrei apenas uma voz a dizer que errado é, porém, a maioria das pessoas (vezes, etc.) são ou estão em vez de é ou está. Como em vários outros sites, o manual de redação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul apresenta simplesmente as duas possibilidades sem fazer qualquer recomendação.
Agora o que eu achei mais interessante foram vários artigos que abordam a concordância siléptica. Silepse é a concordância, não com o sujeito gramatical, mas com a ideia expressa por esse sujeito. Neste exemplo de Alexandre Herculano citado aqui no Ciberdúvidas:
A plebe vociferava as mais afrontosas injúrias contra D. Leonor; e se chegassem a entrar no paço, ela sem dúvida seria feita em pedaços pelo tropel furioso.
O sujeito gramatical é plebe, singular, mas a ideia é plural. O primeiro verbo, vociferava, obedece à concordância gramatical, mas o segundo, chegassem, obedece à concordância siléptica. Em todos os exemplos da resposta do Cigano Mendez a concordância siléptica dá o mesmo resultado que a concordância atrativa (concordância com o elemento do sujeito mais próximo); mas no exemplo anterior, a concordância atrativa dá o mesmo resultado que a gramatical.
Este outro artigo do Ciberdúvidas diz que a concordância siléptica pode ser preferível em certos contextos. Não explica quais. Mas ele diz que a concordância gramatical é melhor no exemplo:
Um grupo de trabalhadores da empresa X fez uma manifestação em frente à Assembleia da República,
porque o grupo é apresentado como coeso, “mais como uma unidade do que como uma pluralidade.” Subentende-se então que a concordância siléptica é preferível se o grupo não for tão coeso e seja mais natural entendê-lo como uma pluralidade. É por isso que no exemplo do Cigano Mendez
Um terço das mulheres presentes está grávido/Um terço das mulheres presentes estão grávidas,
a concordância siléptica soa muito melhor: as mulheres não se juntaram numa gravidez coletiva. Além disso temos a questão do género, em que a concordância gramatical, grávido, soa estranha. Também nos seguintes exemplos me parece que a concordância siléptica soa mais natural:
A maioria dos rapazes foi dançar com a sua namorada/a maioria dos rapazes foram dançar com as suas namoradas.
A maioria das casas do município estão espalhadas pelos campos/a maioria das casas do município está espalhada pelos campos.
Este terceiro ou quarto artigo no Ciberdúvidas, depois de muitos entretantos, tem também um discussão interessante com exemplos do uso da silepse. Resta a questão do:
A maioria de nós fomos/a maioria de nós foram.
O manual de redação da Pontifícia Universidade Católica do RGS apresenta um caso algo parecido. Diz que os casos seguintes são ambos possíveis:
(a) Alguns de nós lemos o livro/(b) alguns de nós leram o livro
Logo conjugando esta possibilidade com o uso da conjugação plural para sujeito singular, resulta que todas as possibilidades do Artefacto são possíveis:
A maioria de nós foi/foram/fomos.
As discussões em volta da silepse apoiam talvez a intuição do Artefacto: dizer a maioria de nós fomos quando o locutor faz parte dessa maioria. Na verdade, parece-me que o que a silepse faz é precisamente apelar à intuição.